#01 - O TikTok arruinou a indústria musical
Quando uma ida a uma festa de formatura lhe causa uma crise existencial
O TikTok arruinou a indústria musical
Fui para a formatura das minhas duas irmãs, uma se formando no nono ano e a outra no terceiro ano do ensino médio. Estava bem animado, pois a última formatura que tinha ido tinha sido a minha mesma, em 2019. Quando cheguei com minha família ao buffet, percebi que estava ansioso, se duvidar, mais ansioso que minhas próprias irmãs.
Não entendi a origem dessa ansiedade, talvez pela expectativa de ser uma grande festa, com gente jovem, com vários adolescentes usando da formatura como meio de celebrar o que são nesse longo e louco período que é estudar na escola. Todo ano sempre tem aquele aluno ou grupo destes que se apresenta com a bandeira LGBT, o que sempre me orgulha, pois sei como sair desse casulo escolar é um grande passo para essa juventude que ainda faço parte.
A festa começou e tudo ia bem, a banda estava ótima e já conhecia a cantora, que me reconheceu das formaturas anteriores. Para quem me conhece de hoje, mal sabe que o Mario Henrique de 2015 até 2019 dançava em todas as festas, especialmente se tocasse Pabllo Vittar.
“Do que se alimenta o jovem no século XXI?” (Foto feita por: Mario Henrique Lima) [Foto inspirada nos trabalhos de Eric Pickersgill]
Já estava achando estranho o fato de os alunos mais novos irem jantar e ficarem sentados nos sofás que ficaram colocados lá. “Cadê a animação desse povo?”, pensei. Após isso, sou tomado por um pensamento que não tinha reparado. Essa geração que se forma, é a geração das aulas online, ou seja, toda aquela animação e enturmação que existia até 2019, quase não existe mais.
Pensei que quando chegasse o DJ eles iriam se animar, e até se animaram. O problema agora é mais meu do que dos formandos, é uma crítica a indústria musical:
O TikTok arruinou a indústria. Não há outra palavra para isso, arruinou. Os DJs chegaram e tocavam 15 segundos — no máximo trinta — de cada música, e iam pulando como se estivéssemos rolando o dedo na pagina inicial do aplicativo. Me assombrou a forma como todo mundo dançava igual e quem não soubesse era esquecido no meio da multidão.
Ok, eu sei que eu sou da geração Fit Dance e Daniel Saboya e todo mundo dançava, ou tentava, igual aos vídeos. Mas três anos se passaram e uma pandemia aconteceu nesse período e eu senti que envelheci uns 20 anos. Conhecia poucas dessas músicas novas, e mal dava para conhecer na hora porque era tocado apenas um pequeno trecho.
Quando começou Bonde do Tigrão e outras dessa geração que inaugurou o movimento do funk brasileiro, me vi dançando com meus professores. Foram poucas músicas que uniram todo mundo naquela pista de dança, depois voltou para a porcaria sonora digital.
Voltei para casa com esse questionamento e uma certa crise de identidade, quem sou eu hoje nas festas? O velho que come, reclama e não dança por não conhecer as músicas e começar todas as frases com: “no meu tempo…”? Envelhecer, às vezes, é um saco.
Não se ouvem mais músicas completas, não se ouvem mais discos completos como um trabalho. Só se ouvem trechos. E nem questiono o conteúdo lírico, se você vai sentar pro chefe ou se você ama falcão e tubarão, no final todo mundo dança, mas não se dança como antes.
RESENHA DA SEMANA
Em meio a guitarras grosseiras, bateria alta, baixos bem equalizados e vocais cheios de drive do Kurt Cobain, Nirvana se consagra como um dos maiores nomes do grunge com Nevermind. Começando com a icônica, Smells Like a Teen Spirit, Nevermind é um exemplo vivo do melhor do rock dos anos 1990.
Em faixas como Lithium, a presença do baixo elétrico deixa a música ainda mais envolvente. Em todas as faixas, Kurt canta com vocais impressionantes e fortes.
Em Nevermind, há faixas pra todos os gostos. Quem quer rock pesado, há Smells like A Teen Spirit, Territorial Pissings e Lithium. Quem quer ouvir faixas mais acústicas ou rock clássico, há Polly e On a Plain
Em suma, Nevermind é um disco imortal, coeso e coerente em todos os sentidos: liricamente e instrumentalmente. Envelheceu como um bom vinho.
O pior de tudo não é nem decorar as dancinhas, é entender qual coreografia é a de cada música, já que todos os passos são iguais. Amei o texto <3