#03 - Onde estão as livrarias em Fortaleza?
Nos últimos anos, as maiores livrarias da cidade fecharam. E agora?
É muito triste, como morador de Fortaleza e leitor, andar pela cidade e perceber a ausência de livrarias. A querida e tão frequentada Cultura, que ficava na Champs-Elysées Alencarina, na avenida Dom Luís, fechou há menos de cinco anos.
Quando vi que ia fechar, uma parte de mim se foi junto. Sei que é dramático, mas imagine o lugar que você ia quase todo mês com sua família, comprava livros e vários CDs fecha de forma inesperada e deixa um vazio cultural em você e consequentemente na cidade. Tudo bem que temos a internet para comprar esses artifícios, mas a ida ao lugar era uma experiência à parte.
Subir as escadas, sentindo o cheiro do café e ir para a sessão musical, rezando para que meu pai tivesse pena do meu amor por Lana Del Rey e comprasse o novo CD dela. E rezando para não ouvir o comentário mais chato pra quem ainda ouve música nas mídias físicas: “Ai, comprar esse CD? É só ouvir pela internet!” e eu responder a ele, quando tinha dúvida entre qual dos três livros levar: “Ah, só baixar e ler pela internet, rs!”
É difícil. A Cultura até reabriu depois em um grande shopping, mas durou pouquíssimo tempo que nem vale a pena descrever mais sobre. Só resta lamentar.
Hoje, o icônico ponto da Avenida Dom Luís é uma dessas academias de rede cuja iluminação parece de boate e é fria que nem um açougue. Acho que isso é um reflexo dos nossos tempos. O corpo importa mais que a mente. Malhar perna duas vezes por semana e superiores em três dias, mas em que dia você trabalha a sua imaginação e sagacidade?
Qual dia ou hora você se perde lendo um livro, viajando entre as páginas, alucinando entre as letras, se surpreendendo em cada página e se segurando para não ler a última frase no final da obra?
Recentemente, a Saraiva de um shopping no Guararapes fechou também. Apresentava sinais. A seção de CDs sumiu e deu lugar a uma seção inteira dedicada à área do direito. Os livros cada vez mais caros. Um que custava R$40 em lojas online custava R$80 em loja.
Mas o mais triste no caso Saraiva é o que virou o espaço da livraria. Virou museu. De arte? Quem dera. Museu da Selfie. Quando li isso sendo anunciado no jornal, passei cinco minutos imóvel tentando processar o que isso quer dizer.
Como assim Museu da Selfie? Já não tiramos selfies demais? Não somos autocentrados demais? A descrição do local diz que conta com vários cenários super instagramáveis, o que sei lá isso queira dizer.
A falta de um espaço de compartilhamento de cultura literária reflete muito os nossos tempos. O corpo, o físico e digital e a presença online importam mais hoje em dia do que comprar bons livros e crescer mentalmente.
Sei que pode parecer elitista, e infelizmente esses dois espaços que usei como ilustração estavam em locais inacessíveis para alguns, mas pelo menos eles existiam em locais de grande circulação. Onde estão as livrarias de rua? Apesar de mais acessíveis, ficam a sua maior parte em bairros universitários.