#ERD - Nostalgia é um sentimento perigoso - Legião Urbana e a “boa música”
Ninguém aguenta mais ouvir Legião Urbana em todos os barzinhos
Como anunciado depois do rebranding, a Eu Reclamo Demais virou uma coluna dentro do “universo” da ócio róseo. :)
Qualquer bar que você for em Fortaleza - e talvez no Brasil - e que tenha música ao vivo, em algum momento a banda tocará algo do Legião Urbana. Eu tenho certeza. E quando começam os primeiros acordes de Tempo Perdido, uma parte do estabelecimento entra em um estágio letárgico de nostalgia.
Após todos gritarem a plenos pulmões o refrão da canção e imitar de forma brega e desafinada os tons graves de Renato Russo, a primeira frase costuma ser “no meu tempo que música era bom” ou “não existe mais música assim no Brasil… agora é só… [insira aqui um gênero musical não compreendido por outras gerações como funk e suas derivações].
Bom, que bom que não existe mais música assim. Com todo o respeito a banda e à memória das pessoas, mas tem hora pra tudo. Não serei tão reclamão, Renato Russo é um baita compositor. Meninos e Meninas é uma música linda sobre bissexualidade. Já em Índios, se repete “quem me dera ao menos uma vez” 42 vezes e é poética de uma forma sensível e linda.
A questão é que SEMPRE retornamos ao ponto inicial desta discussão, de as pessoas que cresceram com a banda e outras dos anos 1980 e 1990 entrarem nessa celeuma de que música boa era desse período.
A cultura é um reflexo de nosso tempo. O que acontecia nesse período? Volta da democracia, Brasília a todo vapor, liberdade sexual que logo depois foi reprimida com a crise do HIV em todo o mundo… eram outros tempos, outros diálogos e outras dores para serem tratadas pela cultura (e pelo governo, claro).
Existe sim, música boa hoje em dia. Vários artistas da “nova MPB” (apesar de ser contra o termo) existem, falta é divulgação, que é cada dia mais difícil com os streamings. Deixo abaixo a playlist da minha amiga e locutora Alice Maia, que se debruça justamente nos novos artistas.
Outra questão comum dos ouvintes do “bom rock nacional dos anos 1980/90” é que eles só escutam isso. Cada um ouve o que quer, claro. Mas parece que eles pararam no tempo. Por isso que digo que a nostalgia é um sentimento perigoso. Podemos evitar os revisionismos históricos, mas ficar preso no passado também não rola. A vida é muito mais legal quando encontramos novas canções que serão as trilhas sonoras das nossas vidas.
Legião Urbana na "balada" é corta vibe demais.
Adorei o texto.
Um beijo.