Liberdade e Responsabilidade: a vida de Alemberg Quindins na manutenção da Fundação Casa Grande
Em 2022, visitamos a Fundação Casa Grande e entrevistamos o homem por trás desse grande projeto
Rápido prefácio:
Esse texto é uma matéria que tinha sido feita para o Newslink, laboratório experimental de jornalismo da UNIFOR, mas por conta de um ataque hacker, o site desapareceu da internet e seu conteúdo foi apagado. A entrevista foi feita em dezembro de 2022. Colaboraram Igor de Castro, com fotos de Maria Eduarda (Duda) Andrade e Rebecca Barbosa.
O Projeto Pau de Arara chega à 17ª edição e fomos recebidos, mais uma vez, na Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri. O local estava muito movimentado para uma segunda-feira qualquer, na qual ocorria o evento de apresentação dos novos diretores da Fundação.
Entre se dividir entre organizar a exposição do Pau de Arara, fotografar o local e entrevistar Alemberg Quindins, eu e mais três estudantes do curso de Jornalismo fomos convidados a realizar a última atividade e entrar no estúdio da Casa Grande FM, a rádio da Fundação.
Entre vários discos de vinil, CDs, microfones e um sistema de programação de rádio, Alemberg Quindins, diretor da Casa Grande nos recebeu muito gentilmente.
Duda Andrade, antes de iniciar para as perguntas de fato, fala que está impressionada como as crianças são inteligentes, desenvoltas, e muito simpáticas. Alemberg agradece e responde: “quando a gente convive num lugar que a gente é quem manda, um lado da gente é a liberdade, e do outro a responsabilidade”.
NL: Quais são os planos futuros para a projeção da Fundação Casa Grande? Tem vontade de expandir, criar fundação em outras cidades?
Alemberg: A gente se pergunta: “qual o objetivo da fundação?” é deixar as portas abertas e não fechar. A nossa missão é essa. Para que aqui dentro a gente possa desenvolver as atividades que têm aqui, um espaço onde as crianças possam ter a liberdade de pensar e colocar em ação seus pensamentos e a responsabilidade de cuidar desse pensamento que foi implantado a partir da ideia dele.
Já existem instituições que vem pra cá, e se inspiram na Fundação, acho que não é a gente fazer outras em outros lugares porque isso é típico daqui. O Instituto Criar, do Luciano Huck, ele esteve aqui e se inspirou aqui. O selo Unicef, existe o item de rádio para crianças por conta da Fundação.
Perguntado sobre de onde veio a ideia de criar a fundação, o homem que, quando criança teve uma banda de latinhas, editou revistas em quadrinhos, um cineminha, aprendeu a tocar violão quase como autodidata, nos responde: “Sempre fui um menino muito presente na minha geração em relação a ideias, então isso é muito importante, que a nossa geração faça a diferença, o que podemos propor pro mundo”.
NL: Você como diretor e visionário desse projeto, como é que vê a geração que se forma hoje?
Alemberg: Na minha geração, quando criança, desenhava com lápis e papel e fazia minhas revistinhas. Se eu fosse criança hoje e tivesse celular, eu teria feito filminhos… é uma geração que tem na mão, instrumentos com maior velocidade e visibilidade. Os homens pré-históricos do Kariri, tinham pedras de sino, que eram ocas, e eles tocavam e se comunicavam uns com os outros, sendo a forma mais rápida que tinha para que não fosse correndo avisar de uma tribo para outra. Então, acho que a geração que a gente faz aqui, pode ser vista no mundo inteiro.
“Existe uma responsabilidade e esse privilégio. Daí a importância dessa geração de dominar as tecnologias e não ser dominado por essas tecnologias.”
Igor: Como as crianças respondem a essa responsabilidade? Precisa chamar a atenção delas?
A: A gente chama a atenção, elas (as crianças) chamam a atenção da gente. Porque chamar atenção nem sempre é brigando (risos). Já vi menino pequeno aqui, ensinar menino maior a editar e fotografar. Você vai ver aí um monte de menino com câmera na mão e sempre tem um dando uma dica pro outro. Acho que é esse o instrumento de diálogo que ficou bonito. Naquela época, pra tirar foto, era só nas festas de ano, que o fotógrafo ia lá em casa pra tirar foto. Hoje você tem celular e faz tudo isso.
Eu acho ótimo essa ideia de responsabilidade, essa coisa deles com eles mesmos. Um dia cheguei aqui e um turista perguntou por mim, um dos meninos disse: “Alemberg não está aqui não, mas não precisa mais dele não” (risos). Achei ótimo, porque tem aquela coisa da continuidade.
Alemberg nos relata que acha estranho o fato de os adultos não darem espaço para as crianças acontecerem. Pegamos um espaço e queremos ter controle sobre ele e fazer as coisas da nossa maneira. “É mágico essas cenas invisíveis, dos olhos daqueles que querem se promover à custa desse espaço que é muito maior na infância, do que quando se é adulto. Quando se é criança, cada minuto é uma eternidade. Pro adulto não, ele já começa a agenda lhe tirando a sua inocência, começa o ano já sabendo que no final tem que entregar tais trabalhos… a criança começa o dia, no minuto que acorda. Por isso que a gente acha que nosso tempo de infância foi bem longo e hoje quase não dá tempo de fazer nada, né?
Complementei a sua fala dizendo sobre como as gerações mais atuais estão cada vez mais conectadas a internet e se tornando adultas mais cedo:
“Estão adultizando e adulterando as crianças (risos). Então esse desequilíbrio que a gente vê na humanidade, é de duas coisas: estão tirando as florestas de cima da terra e estão tirando a inocência das crianças”.
Ana Rosa chegou para melhorar mais ainda a nossa entrevista, se dividindo entre brincar com o acervo ou ficar nos braços de Alemberg. Foto - Duda Andrade
Na Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, há vários laboratórios, os de conteúdo, que são rádio e TV. E os de produção, que são a gibiteca, biblioteca, DVDteca. Na Fundação se brinca de tudo, imagina você ser criança e brincar de museu, brincar de rádio?, complementa Quindins.
Mario: Aqui a fundação tem grande reconhecimento internacional. Tem algum país ou instituição que ajuda a colaborar?
A: A Fundação tem relações com várias instituições internacionais, por passar projetos, por receber visitas desses projetos. Recentemente fizemos uma turnê com a banda tocando, espetáculo, mostra de vídeo e fotografia, workshop…
Fizemos Portugal, em parceria com Universidade de Coimbra; Espanha, em parceria com o clube do Barcelona; Itália, com Teatro Era - Pontedera; Alemanha, em parceria com a Fundação Pina Bausch. Canadá com apoio da prefeitura de Toronto. Boston, (USA), junto com Berklee College of Music e Universidade de Massachusetts.
De acordo com o que a gente produz, se liga a parceiros que fazem com que a Fundação vá passando por esses lugares e vá ganhando essa visibilidade, que a gente trata mais como amigos da Casa Grande, porque atrás de cada instituição dessa tem um amigo da Casa Grande.
Durante a nossa entrevista, entrou Ana Rosa, por volta dos quatro ou cinco anos, criança que participa da Fundação. Ana intercala entre ir pros braços de Alemberg ou brincar com os CD’s que tem dentro do estúdio. Rebecca Barbosa, que fotografou o momento, focou em registrar a criança brincando com o acervo. “Oh, - diz Alemberg apontando para Ana Rosa - ela disse que tá fazendo uma pizza, mas ao mesmo tempo ela tá organizando o acervo da rádio. A gente organiza o acervo e chega uma pessoa sem paciência diz “essa menina tá malinando ai”.
Ana nos mostra a “pizza” que fazia. Foto: Duda Andrade
A presença de Ana Rosa foi essencial para nossa entrevista, pois estávamos vendo na prática o que a Fundação prega, e de primeiro, para muitos, causa estranheza. As crianças que participam fotografam, fazem visitas guiadas ao museu, apresentam a gibiteca e DVDteca e cuidam de um canal de TV. É o mundo deles e estamos apenas vivendo nele! Uma pessoa de fora provavelmente estranharia e repreenderia o ato de Ana estar brincando com os CDs ou em ter subido na mesa da rádio, a qual, ao meu desespero, me desconcentrei da entrevista, com medo da criança desprogramar a rádio.
Alemberg logo percebeu a minha mudança e, perguntado no final sobre que história interessante poderia contar, disse: “ A mais atual, que a Ana subiu ali pra mexer e vocês ficaram preocupados achando que ela ia desprogramar a rádio, não tem nada a ver. Se ela desprogramasse, ia chegar outro e programava de novo”, disse rindo. “A gente busca acertar cada vez mais. As histórias são essas daqui, as pessoas se surpreendendo com as coisas que acontecem aqui.”
Ana, focada, brincando no computador da rádio. Foto: Duda Andrade
Por fim, parece que aproveitamos mais o tempo em Nova Olinda, na qual Alemberg termina dizendo: "Na cidade grande, na capital, a gente passa pelo tempo e em Nova Olinda o tempo passa pela gente".
Ócio Róseo não recomenda:
2024
Nota: 3.4
Aproveitando que ainda estamos em clima junino, vou aproveitar a oportunidade e estragar agora. Ouvi - por pura curiosidade - o disco de São João, ou melhor São Juão da Juliette. Foi uma experiência…. definitivamente.
Para tentar agradar o público mais novo, a cantora alterna em fazer mashup com clássicos da música nordestina e com músicas novas. Das mais consagradas, temos Xote das Meninas (Luiz Gonzaga) e Esperando na Janela (famosa na voz de Gilberto Gil).
Aí é o único destaque desse horror compilado em um CD, que mais se parece uma playlist. Quando Juliette canta os clássicos nas batidas saturadas produzidas por Rafinha RSQ, até dá pra passar. O problema piora, e muito, quando Juliette canta todos os termos “tiktok” presentes nas canções de um minuto e meio que hitam.
É só olhar Vem Galopar, que mescla Luiz Gonzaga com termos pobres que remetem a sexo. Inclusive, talvez aconteça uma uma briga sobre os direitos da música, entre a gravadora Universal e a família de Gonzaga. E é essa que está hitando negativamente no Tiktok rs.
Da faixa 7 a 9, Juliette canta em ritmo de forró canções de Marina Sena, Pedro Sampaio e MC Hariel (?). Por que diabos isso acontece? Ela canta Dando Sarrada a versão forró QUE JÁ EXISTE!. Essa parte do “disco” é composta por essas canções mais novas que duram no máximo 1:15 que em nada tem a ver com a cultura nordestina.
E, okay, há quem defenda que as festividades juninas tem que contemplar todos os gêneros musicais brasileiros, mas aqui esse argumento não cabe. E olha que eu adoro o conceito de hibridismo cultural e todas as modificações que podem ocorrer na cultura, mas esse trabalho não é um bom exemplo.
Já a décima é Olha Pro Céu, conhecida na voz da Elba Ramalho. Passamos pelo “forró”, entramos no limbo da música pop e terminamos da mesma forma que começamos.
É um bom disco? É bom pra se revoltar e pensar em que futuro se encontra a música brasileira. É uma tortura em dez faixas. É vazio de conteúdo artístico, foi feito pra paulista se orgulhar e dizer que é nordestino, mesmo que apenas os avós tenham nascido na região.