Fausto Nilo e minha primeira experiência como jornalista
Uma vez ele foi na minha escola em 2012. Doze anos depois, nos reencontramos. Mesmas pessoas, novas experiências
No primeiro dia da faculdade de jornalismo, lá em 2020, uma professora perguntou pra turma “por que vocês querem fazer jornalismo?”. Os alunos iam respondendo, tímidos, ainda sentados nas cadeiras. A sala era grande e eu mal os ouvia.
De repente, como nessas epifanias doidas à la Lispector, me lembrei de um dia em 2012…
Há 12 anos, eu estudava na Escola Espaço Vida, que tinha ideais construtivistas. Nessa época, estava no 5º ano do fundamental1 e a gente estudava sobre artistas cearenses. No dia 15 de maio de 2012, o Fausto Nilo foi até a escola pra conversar com a gente. Eu fiquei muito animado. Nessa época eu já cogitava fazer Jornalismo, pensando mais na TV.
Meu sonho nessa época, na verdade, era ser ator. Aparecer na TV. Até o dia que minha mãe falou verdades duras demais e disse “meu filho, do Ceará sai só humorista”. Vi o sonho infantil se desfazer na minha frente, e pensei no jornalismo. Eu gostava de escrever, via e lia jornais… por que não?
Enfim, escrito o onírico drama infantil… A sala inteira se preparou pra entrevista. Lembro que meu pai me deu um caderninho da Coelce (quem lembra?) e eu escrevi umas cinco perguntas que o tempo apagou da minha cabeça. Só lembro que em uma eu o questionava se a neta, que tinha nascido a pouco tempo, teria uma canção em homenagem a ela.
Também não me recordo da resposta de Fausto. Mas lembro que ele falou sobre o Dragão do Mar, que é obra sua, falou de tradução de músicas e falou da cidade de Fortaleza.
Foi um momento muito legal, e o considero como a primeira vez que me senti jornalista. Afinal, tinha estudado a fonte, feito perguntas e conversado com ele. Precisava nem de diploma.
Muitos anos depois, abro o meu e-mail pessoal e me deparo com uma foto que tirei com Fausto no dia 15 de maio de 2012. Fiquei muito surpreso e me perguntando como essa foto ficou salva numa “nuvem” que eu nem usava.
Desta parte eu lembro. Eu tinha um iPod Touch 4ª geração, que era quase como minha vida no aparelho. Jogos, muita música e um péssimo início nas redes sociais preenchiam o iPod. Lembro que pensei em tirar uma selfie com ele, e tirei a película, que embaçava e não era própria para o dispositivo.
Mas alguém tirou a foto na câmera traseira e, de forma quase misteriosa, ela ficou na “nuvem” por todo esse tempo.
Eu e Fausto Nilo, em 2012. Nessa época eu só tinha cabeça e dente..
Pois bem, no meu estágio atual, em 2024, há o programa Pause, apresentado pelo jornalista Clóvis Holanda. Conversando com ele e George, seu estagiário e meu amigo, descobri que Fausto era o convidado do programa da semana. Fui acompanhar a gravação com eles.
Lá estava Fausto, quase exatos 10 anos depois, no dia 10 de maio. Com mais cabelos brancos e fala mais pensativa, Nilo falou de suas composições, sobre Fortaleza - já que é um tema que o atravessa muito como arquiteto - e sobre o Dragão do Mar, mais uma vez.
E lá estava eu, nos bastidores, com outro caderno na mão, anotando o que ele falava de interessante. Com mais cabelo, mas mais entradas que prenunciam uma possível calvície herdada do meu pai
Passados 25 anos desde sua fundação, o Dragão está abandonado e cheio de violência nas redondezas. Fausto respondeu que “O Dragão do Mar não foi um projeto convencional, ele é meio urbano, que foi feito para proteger o histórico e fazer usos mistos entre sociedade e o espaço”.
Confira a entrevista completa:
Nesse meio tempo, descobri que Fausto Nilo compôs uma das minhas músicas favoritas cantadas pelo Ney Matogrosso. “Postal do Amor”. O nome já é lindo, e a performance de Ney é mais ainda. Essa música tem três versões, mas a minha favorita é a de 2019, do álbum Bloco na Rua.
Conto pra ele sobre esse encontro nosso há dez anos, no qual ele responde com um sorriso tímido, tendo gostado da história, acredito eu. Tiramos outra foto, na mesma posição. Ele a esquerda e eu a direita.
Pois bem, a pergunta da professora chega até a mim e me levanto – pra também inflar o ego um pouco, não vou mentir – mostrar algum tipo bobo de superioridade e falo sobre essa experiência de ter entrevistado essa lenda da cultura cearense que é Fausto Nilo quando tinha 12 anos.
Cantinho da Gratidão
Esse primeiro encontro em 2012 não seria possível sem as aulas de artes da professora Joyce Custódio e de Amália Simonetti, diretora dessa primeira escola que estudei.
Meu obrigado a Clóvis Holanda e George pela possibilidade do re(encontro).
Nota do Escritor: Após postagem no instagram, Joyce Custódio, professora de artes na época disse que o encontro foi no 4º ano do EF.