Vovó e a mochileira da Argentina
Aproveitando as férias - conto hoje um causo na capital portenha em 2012...
Aproveitando a temática férias, estou agora me aventurando no Rio Grande do Norte. Sem redes sociais, sem câmera (quebrou…), resolvi publicar essa história de 2012, que foi escrita como crônica em 2020 pra faculdade e é publicada agora com poucas alterações. A história é de família. As fotos são de 2022.
Espero que gostem xx
O ano era 20121, a economia ia bem e toda minha família conseguiu comprar passagens para Buenos Aires! Que delícia ter 12 anos e conhecer o estrangeiro, conhecer outra cultura. Como sempre gostei de aprender novas línguas, logo baixei um aplicativo para aprender espanhol no meu finado iPod Touch. Aprendi o suficiente para saber me virar, mesmo toda minha família indo viajar comigo, queria saber o mínimo para não passar perrengue.
Chega o tão esperado dia de viajar. Íamos depois da ceia de natal. Levei meu diário de viagem e ia anotando tudo. Passamos a virada do dia 24 pro dia 25 de dezembro dentro do avião e o clima era de muita fraternidade.
Os guardas da Casa Rosada. Foto de 2022.
Era costume de toda viagem de avião minha avó Nirce preparar sanduíches de filé para comer no voo. Comemos tranquilamente no voo Fortaleza - São Paulo. A novela argentina começa depois.
Depois de passar no Duty Free e nos dirigimos para a vistoria, a bolsa térmica cheia de sanduíches com queijo e filé bem temperado chama a atenção da agente. “Infelizmente, vocês não podem embarcar com esse alimento”. Meu tio pergunta o porquê e simplesmente a próxima coisa que lembro é a família inteira se empanturrando de mais sanduíche de filé com coca-cola.
O desespero era tanto que minha avó querida ofereceu para a agente, que teve que recusar pela filosofia do trabalho.
Imagine a cena: meu pai, com toda sua finesse de viajar de terno e sapato social, e o resto da família usando calças moletom e crocs comendo sanduíche de filé dormido e amassado que estava guardado numa bolsa térmica. Não aguentamos mais comer e tivemos que jogar fora o restos dos sanduíches, refrigerantes e sucos.
Finalmente embarcamos e lá vinha Buenos Aires.
A cidade era linda, alugamos dois apartamentos em um prédio da Calle Lavalle, que ficava bem no Centro. Estávamos cumprindo todo o roteiro que tinha montado com meu primo.
Em um dos dias, iríamos ao zoológico. Tomamos o café da manhã em uma padaria, como era de costume e fomos em direção a estação de metrô. Fui caminhando com minha avó, e na mão ela levava uma medialuna, que é como chamam o croissant. Sempre levávamos o resto do café da manhã para se algum de nós sentisse fome, mas especialmente para dar para meu primo João Luís, que tem diabetes.
A duas quadras da estação de metrô, uma moça com uma grande mochila nas costas passa por nós.
Minha vó, em sua inocência, diz para ela:
- Oh minha filha, você não quer esse croissantzinho não?
- Perdoname, no comprendo, disse a moça gesticulando negativamente
- Tome minha filha, tá bem quentinho
Nessa bagunça linguística, eu intervenho com meu espanhol digital de duas semanas e digo:
- Perdoname, estás loca!, fazendo o sinal de gente doida para a moça
- No pasa nada, disse a moça
Ela seguiu o caminho dela e a gente seguiu o nosso. Quando a pobre moça desaparece na multidão na primavera argentina, digo a minha avó
- Vó, a senhora tá doida? Não viu que aquela moça era mochileira?
- Não meu filho, ela parecia tá era com fome
Manifestação política ao lado do Café Tortoni. Foto de 2022.
É por essa e por mais mil outros motivos que é importante estudar um pouco da linguagem do país para se fazer de doido, ou melhor, hacer de loca, e se safar nessas situações do dia a dia.
Mais de dez anos se passaram dessa novela argentina acontecendo na minha família e sempre contamos a história, rindo, e lembrando que apesar dos pesares, ¡viver es una locura!
No Museu de Artes, CABA, em 2022.
As fotos dessa viagem viraram lost media - o que quer dizer: perdi TUDO. Não tenho nada além de memórias dessa primeira ida a Buenos Aires. O cartão de memória da câmera se perdeu e eu tinha medo de sair com o iPod… besteira de criança. As fotos que ilustram essa edição foram feitas dez anos depois, quando fui em 2022. (sem sanduíches de filé dessa vez rs)
Ócio Róseo recomenda!
A recomendação de hoje não é nenhuma análise de disco, mas a indicação de uma banda argentina de indie pop muito gostosinha chamada Mi Amigo Invencible.
Eles seriam - a grosso modo - uma Foster The People em espanhol. Os descobri em algum blog após eu pesquisar “bandas de rock argentinas”. A pesquisa foi no período de produção do roteiro da viagem de 2022 para o país e gostei demais. Fez parte da trilha sonora da viagem.
O disco de 2022 também é um sabor! - Recomendo ouvi-los dirigindo ou lavando a louça - a segunda opção é mais a minha realidade rs :( - Dele, gosto muito de Impecable.
Eles lançaram disco este ano, inclusive.
Deste, recomendo: Pantera; Colinas; Reflejo e Acto de Fé.