As coisas naturais de Marina Sena
No terceiro álbum de estúdio, Marina Sena mostra que veio mudar o cenário musical brasileiro
“O melhor álbum da Marina Sena sempre será o próximo”. Vi essa frase rondando o twitter e é engraçado o efeito manada que essa rede social proporciona. Começaram a detestar Marina por que ela estava andando com subcelebridades, depois namorando um tiktoker e agora ela voltou ao patamar de artista. Tudo isso são os internautas que escrevem, ok? Estou só repassando.
Seu terceiro álbum de estúdio é de um primor, de uma finesse que surpreende. Após o rompimento tanto profissional quanto amoroso com Iuri do Rio Branco, que produziu seus dois primeiros álbuns, De Primeira (2021) e Vicio Inerente (2023), a expectativa para Coisas Naturais era grande.
“Numa Ilha”, o primeiro single, já entregou a sonoridade praiana e latina do disco. Essa canção é basicamente uma bachata, um gênero musical que por si só é uma mistura de culturas e é de origem dominicana. O produtor Janluska postou um video sobre como foi a produção da música e é algo lindo de se assistir, deixo aqui o link:
Em “Anjo”, Marina traz uma homenagem à bossa nova. O jeito de cantar o pré refrão em falsete e fazendo modulações na voz é muito bonito e mostra o amadurecimento vocal da artista.
Se no Vicio Inerente (2023), o autotune na voz era o instrumento, aqui o destaque vai para a produção diversa do disco. Em “Doçura”, feat com o trio latino Çantamarta, o reggaeton entra em cena. Apesar de ser um gênero já muito trabalhado, e de certa forma, genérico nos últimos anos, a produção com elementos brasileiros e o verso em espanhol traz um brilho pra canção.
“TOKITÔ” é de longe e de perto a música mais fraca do disco. Já dei muitas chances para ouvir depois do lançamento, mas nada nela me agrada. A letra é muito repetitiva, a voz de Sena está estranha, uma das artistas convidadas canta em português de Portugal, o que em si só causa uma estranheza ao ouvido brasileiro. Essa passa despercebida.
Quem lembra quando a Beyoncé lançou a música BODYGUARD e falaram que era uma faixa good vibes? Marina tem agora “Mágico”, que junto com esta da Bey, e de The Art Of Starting Over, da Demi Lovato, compõem o que eu chamo de “música para dirigir”. São canções leves, com letra legal, que você pelo menos dá um sorrisinho no decorrer da música.
Em “CARNAVAL”, Marina se desprende um pouco da estética geral e se diverte. A canção me lembrou muito CUUUUuuuuuute da ROSALÍA, por conta das batidas de bateria de carnaval ao fundo. Essa é divertida e o maior defeito é a duração de um minuto e 14 segundos. Talvez tenha sido curta pra lembrar a gente que a festa do carnaval sempre é passageira.
Agora, em “Desmitificar”… temos uma fusão tão grandiosa de tantos elementos estéticos e sonoros que é até complicado dizer em palavras. Desmitificar virou sentimento, fez morada dentro dos meus tímpanos. A letra evoca poder, desejo, e, de certa forma, uma raiva.
Vou te mostrar todo o tempero, toda essa malícia
Cê vai rodar o mundo inteiro com minha magia
Vai melhorar seu paladar, só vai querer a minha
Em outro trecho, Marina diz:
Quer entrar no mar? Eu te guio
Se for pra transcender, desmitificar
Se entorpecer, se intensificar, eu consigo
Em toda a música, Sena se coloca como essa mulher madura pronta pra explorar o novo com o parceiro, tudo com uma batida inovadora por cima.
“Ouro de Tolo” dá o nó na obra. A letra é uma verdadeira poesia, tendo até uma parte falada. Tem até uma versão alternativa, só na voz e violão. Finalizo aqui com um trecho:
E sem nenhuma ilusão
Minha visão se abriu, eu chorei
Chorei por mim, porque eu não vi
Que você nunca coube aqui, ou melhor
Acho que vi, me enganei, eu me traí
Nem tudo que reluz é ouro
Seu amor é ouro de tolo
Tome cuidado, nem tudo que reluz é ouro, mas tudo que Marina Sena lança tem qualidade de ouro.
« NOTA: 90 »
E aí? Já ouviu o Coisas Naturais? Deixa um comentário! Vamos conversar sobre o disco!
Um beijinho bem natural pra quem leu até aqui xx
Ouça o disco abaixo:
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Anjo é um primor, a produção, a bossa nova, os ruídos, os vocais… se destaca muito no disco